Membros do partido do ex-presidente calculam que, se consumada, a detenção deve ocorrer no mês de março
Enquanto torcem para
que o Supremo Tribunal Federal (STF) conceda um habeas corpus em favor
de Luiz Inácio Lula da Silva, petistas próximos ao ex-presidente
discutem o que fazer caso o líder máximo do partido vá para a prisão. Os
petistas calculam que, se consumada, a prisão de Lula deve ocorrer em
março.
O debate ainda não foi colocado formalmente para
deliberação das instâncias partidárias, mas um grupo restrito formado
por dirigentes, parlamentares, ex-ministros e líderes de movimentos
sociais tem conversado sobre quais ações podem ser postas em prática
enquanto Lula estiver detido.
As discussões vão desde a estratégia
eleitoral em caso de impedimento do ex-presidente até mobilizações de
rua, campanhas na internet e o comportamento do próprio petista na
cadeia. Segundo um membro do partido próximo de Lula, o ex-presidente
não vai reconhecer “moralmente” a condenação a 12 anos e 1 mês de prisão
imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), não deve
ser um preso dócil e “vai dar trabalho”.
Alguns petistas chegam a
falar em greve de fome, mas auxiliares mais próximos do ex-presidente
garantem que Lula nunca cogitou a ideia. Ele ficou seis dias sem comer
quando foi preso em 1980, durante a ditadura militar, por liderar uma
paralisação de 41 dias dos metalúrgicos do ABC. Mas em 2005, quando era
presidente, Lula criticou essa forma de protesto quando o bispo Luiz
Flávio Cappio fez uma greve de fome contra a transposição do Rio São
Francisco. “Greve de fome é judiar do próprio corpo”, disse Lula, à
época.
Articulações
Algumas iniciativas têm
sido tomadas à revelia do ex-presidente. No dia 1º de fevereiro a
Frente Brasil Popular (FBP), formada por cerca de 200 movimentos sociais
ligados ao PT e ao PCdoB, aprovou proposta do Movimento dos Sem Terra
(MST) para a realização de um acampamento na frente da casa do petista,
em São Bernardo, a partir de segunda-feira. O objetivo seria constranger
a Polícia Federal ou até, no limite, impedir o cumprimento de um
eventual mandado de prisão. Lula não foi consultado e integrantes da
direção da Frente acham pouco provável que a proposta seja colocada em
prática.
Alguns dirigentes petistas sugeriram a realização de uma
vigília na frente da prisão em Curitiba para onde o ex-presidente pode
ser levado. Um grupo de parlamentares do partido propõe organizar
caravanas diárias para visitar Lula e, assim, propagar as mensagens do
petista para fora da cadeia e manter seu nome em evidência. Ainda não há
decisão se, em caso de prisão, ele vai se entregar ou esperar a chegada
da PF em casa. Os petistas acham difícil a manutenção de grandes
mobilizações populares.
Humor
Segundo
auxiliares e pessoas que estiveram com Lula nos últimos dias, ele está
tranquilo e mantém o bom humor. O ex-presidente encara a possibilidade
de ser preso como um ato político que tem como objetivo tentar tirá-lo
da disputa presidencial. Ele tem dito que em três anos de investigações,
os responsáveis pela Lava Jato não conseguiram desmoralizá-lo perante o
eleitorado e seus aliados políticos.
Assessores de Lula comparam a
situação com a do senador Aécio Neves (PSDB-MG), flagrado em conversa
na qual pede dinheiro ao empresário Joesley Batista, da JBS, e
marginalizado por muitos de seus próprios companheiros de partido. “Lula
não é o Geddel (Vieira Lima) nem o (deputado) João Rodrigues (PSD-SC,
preso no dia 8 deste mês)”, afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).
“Estamos vivendo uma situação em que de um lado o prestígio de Lula e
do PT aumentam sensivelmente e do doutro a perseguição judicial não
cessa”, completou.
Enquanto isso, os petistas se mobilizam para
tentar convencer o plenário do STF a aceitar o habeas corpus de Lula. O
ex-ministro do Supremo Sepúlveda Pertence, recém incorporado à defesa do
petista, tem circulado pelos gabinetes da Corte. O périplo começou no
mesmo dia (6 de fevereiro) em que sua inclusão foi anunciada, quando
houve a posse do ministro Luiz Fux na presidência do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência
Gilberto Carvalho, o advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas, o
deputado Vicente Cândido (PT-SP) e o ex-presidente da Câmara João Paulo
Cunha também foram escalados.
Otimismo
Depois
da entrada de Pertence na equipe de defesa, o clima de pessimismo foi
substituído por um otimismo controlado. “Apesar de todos sinais
contrários, ainda tenho esperança de que vai se fazer justiça nas Cortes
superiores. Não aceito a normalização da prisão do Lula”, disse o
deputado Wadih Damous (PT-RJ).
Fonte: Veja
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