Empresa de “lista suja” do trabalho escravo doou para Fátima em 2014


Sucocítrico Cutrale destinou o valor inicialmente ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, que encaminhou a quantia por transferência eletrônica para a conta de campanha da então candidata
Fátima Bezerra, senadora pelo PT
José Aldenir / Agora Imagens
Senadora Fátima Bezerra (PT)

A empresa Sucocítrico Cutrale Ltda, uma das maiores produtoras de suco de laranja do país e integrante do cadastro de empregadores que submeteram seus trabalhadores a condições análogas à de escravidão, realizou uma doação oficial no valor de R$ 475 mil para a campanha da senadora Fátima Bezerra (PT) em 2014.
A doação consta na prestação de contas da petista. Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Sucocítrico Cutrale destinou o valor inicialmente ao Diretório Nacional do PT, que encaminhou a quantia por transferência eletrônica para a conta de campanha da então candidata a senadora em 5 de agosto de 2014. Ao todo, Fátima declarou receitas da ordem de R$ 3.409.764,00* naquele pleito.
O cadastro de empregadores acusados da prática de trabalho escravo é realizado pelo Ministério do Trabalho. Os patrões só entram na “lista suja” depois que esgotam todos os recursos de defesa, na esfera administrativa. Permanecem nela por dois anos. A mais recente atualização da lista ficou pronta em 6 de outubro.
A Sucocítrico foi alvo da fiscalização em 2013 e, segundo as acusações, a empresa submeteu 23 de seus trabalhadores a más condições de trabalho. As atividades da empresa são concentradas em uma fazenda de Comendador Gomes, cidade localizada na região do Triângulo Mineiro.
O PT, partido ao qual Fátima Bezerra é filiada, tem criticado duramente o Governo Federal por medidas que, na interpretação de líderes do partido, relaxa o combate ao trabalho escravo no país. No último dia 16, uma portaria do Ministério do Trabalho mudou os conceitos de trabalho escravo. No texto, ficou estabelecido que trabalho forçado se configura apenas quando há restrição da liberdade de ir e vir. A medida causou repulsa de entidades e parlamentares.
No último dia 24, uma medida liminar assinada pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a portaria.
OUTRO LADO
O coordenador da campanha de Fátima Bezerra ao Senado em 2014, Raimundo Alves, esclareceu em nota que, ao receber a doação da Sucocítrico Cutrale, “o PT não estava se comprometendo com a defesa de possíveis irregularidades cometidas pelo doador”. A nota ressalta ainda que as contribuições foram legais, dentro das normas em vigor naquela eleição.

Raimundo Alves assinalou também que o fato de o PT criticar o Governo Federal quanto ao relaxamento da fiscalização do trabalho escravo, mesmo tendo recebido doações de uma das empresas envolvidas, não representa “incoerência”. “Onde está a incoerência do Partido dos Trabalhadores ao defender os direitos dos trabalhadores?”, escreveu.
A nota do coordenador da campanha da petista pontua ainda que a doação para Fátima Bezerra não partiu diretamente da empresa para a conta de campanha da então candidata. “(…) a doação à campanha da então candidata foi do Diretório Nacional do PT, tendo como doador originário a citada empresa”, disse Raimundo. fonte: Agora RN
Atualizada às 13h18 de 28/10/2017.
*ERRAMOS: Inicialmente, a reportagem informou que as receitas da campanha de Fátima Bezerra ao Senado em 2014 somaram R$ 9.459.462,00. Na verdade, quem declarou à Justiça Eleitoral ter recebido este valor foi a candidata Wilma de Faria, então no PSB. A arrecadação de Fátima, conforme consta na matéria já atualizada, foi de R$ 3.409.764,00.

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